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Amabilidade da fuga

outubro 19, 2012


Ela acudia a mente dele, como quem proferisse as mais tocantes palavras que arrancaram-lhe até um intenso suspiro. Conhecia sua honra e brio, movimentos de suas pernas ao andar e o frangido da mão quando sentia-se pressionado. Iluminista não assumido, ela tinha catalogado mentalmente cada uma de suas majestosas ideias revolucionárias das quais ouvia com toda atenção. Ele subjugava-a com caricias apaixonantes, batimentos pulsantes do mais sincero sentimento que só fazia aumentar por aquela jovem mulher de características físicas tão peculiares: o jeito de cumprimentar as pessoas, de rir como criança feliz, olhos fortes e pretos que o engoliam por inteiro sem deixar restos. O nome da cuja, só em pronuncia, fazia ele tremer e as mãos frias do nervosismo era visível.

Entretanto existia, porém, uma força involuntária que fazia-a tomar assim o partido da racionalidade, cedida ao desejo de liberdade. Ele não temerá tanto quanto as sílabas assim, se-pa-ra-das, do que elas juntas nos momentos seguintes. Aconselhou-lhe ponderalmente, não afim de induzi-ló a não acreditar mais na simplicidade da vida, mas antes ao contrário, de justamente vê-lá da melhor forma possível, porque apesar de ser um adeus, era uma nova lente que era lhe entregue de presente. Sentia todos os seus órgãos sendo perfurados por uma serra-elétrica, pensava qual era o canalha que a roubará por inteira de seus braços aconchegantes e fará ela recitar tristes lamentações dos lábios que beijará há uma hora atrás.

Ela dobrava as mãos, ele derramava copiosas lágrimas pelos olhos. A impetuosidade de seu desejo queria aquela mulher, seu único coração batido por dois, gritava como comerciantes de feira dentro da mente para que não permitisse que o amor em forma humana deslizasse graciosamente os olhos para o chão e retire-se do quarto. Avassaladoramente em uma desesperadora tentativa, ainda atônito, arriscou a pergunta-lá se aquela noite não gostaria de passar ali, apenas a prosear à toa, comer algo e tomar um suco fresco, acompanha-ló no pretérito do presente, sem passado e nem colocar em mesa hipóteses para um futuro. Escutou o silêncio.

Agitação tumultuosa. Eita, que tudo embrulhava o estômago e os objetos sentiam que o silêncio de alguns segundos era o tempo necessário para uma fuga planejada, menos ele.

Porque até as mais belas histórias poetizadas dentro de uma sinfonia dançante, terminam com um ponto final.


Por autora também do blog  Ela se desmancha no calor.

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