Pobre garoto que de um sonho nem conseguiu sair. Não precisava de muito remoço que de tantos olhares recebidos de lado podia afirmar que ainda era novo e não crescido, é assim que se define gente que deixou de ser criança, pessoa grande e "desenvolvida" lá na ala hospitalar, pelo menos é o que dizem a ele. Sempre o pegava contemplando as janelas enquanto passava pelos corredores de paredes brancas com passos compassados e contados, mas nunca o via triste. Simpático até as orelhas, falava menos que um papagaio tagarela, comia com olhos de jabuticaba e quando encontrava com gente careca, achava engraçado e não deixava de pensar no conto em que haveria de ter escutado em uma vaga espiada na prosa que Dona Arlete, enfermeira, estava tendo com Bernadete, paciente do hospital, ela recitava em um dos quartos, "A terra dos meninos pelados". Nunca esqueceu, era capaz de absorver as coisas em um milésimo de segundo, tão ágil que em menos de dois já tinha apreço e bebido como água aquela história peculiar.
Outro dia, ele com muita complacência deixava que as palavras o fizessem, escreveu um texto brilhante sobre a simplicidade de ser um ser humano. Ontem, ele teve um ataque cardíaco, mas agora está bem de novo e com aquelas mesmas minhocas dançantes na cabeça. Eu só não entendia, porque aquele garoto estava ali, nem comentários chegaram aos meus ouvidos sempre atentos pois nem o silêncio me enganava. Amanheceu hoje cantando como uma andorinha, não estava sol mas tinha uma ventania muito forte, seus pais não iriam visitá-ló e brinquedo novo não ganhou, será que dissertará mais um texto genial digno de toda leitura humana? A ventania assustava a todos do hospital e ele lá, calado e sorrindo, em pé do lado de um quadro enorme da área de atendimento, nunca fará isso. A porta abriu-se e com toda a força o vento como uma bola atingiu-lhe o peito. A palavra "morreu" havia entrado nas linhas de seu tempo.
Ele tinha uma doença imperceptível, ninguém podia tocar em seu coração porque senão diria adeus como em um desespero pior do que quando molhamos a meia e na aflição maior que possa existir do que o som de unhas arranhando a lousa da escola , mas eu não sabia disso até que o vento o levou para bem longe daqui. Agora o pobre garoto que do começou da história não conseguia sair de um sonho, saiu e virou letras.
Por autora também do blog Ela se desmancha no calor .
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Olá, tudo bem? Eu vi o seu trabalho no template de sorteio e gostaria de saber se vc faria um pra mim e quanto vc cobraria??? Ficou muitpooo lindo.
ResponderExcluirmeu blog
nasproximaspaginas.blogspot.com
meu email
raah_varella@hotmail.com
obrigada
bjs
Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
ResponderExcluirreparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.